ROSEMAR PORTUGUES
PROF. ROSEMAR - PORTUGUES - 1ºD e 1ºE
Plastificar a cidade?
Num país em que as pessoas morrem por doenças de fácil cura, a morte de
uma palmeira é completamente
irrelevante. Mesmo que, em vez de morte, tenha havido assassinato. E mesmo que, em vez de uma palmeira, tenham sido assassinadas dezenas de
palmeiras. Maputo fez-se bonita para a cimeira da União Africana. Palmeiras foram
adquiridas (e não foram nada baratas) para embelezar a mais nobre das avenidas
da cidade. O cidadão comum sabia que esse dinheiro saía do seu bolso. Mas
estava até feliz por colaborar no renovar do rosto da cidade. Da sua cidade.
As palmeiras reais vieram e fizeram um vistaço. Os maputenses
passeavam-se, com acrescida vaidade, pela larga avenida. Mas as palmeiras têm
um enorme inconveniente: são seres vivos. E pedem rega. Apenas depois de terem
sido plantadas é que se iniciaram obras estranhíssimas de abre-e-fecha buraco, põe-e-tira tubagem. As palmeiras,
pacientes, ainda esperaram. Mas estavam condenadas à morte. Uma
a uma, começaram a secar.
Durante meses (e até hoje) ficaram os seus cadáveres de pé como
monumentos à nossa incapacidade. Não houve sequer pudor de lhes dar destino.
Elas sobraram ali, como provas de um criminoso desleixo. O cidadão que, antes
fora iluminado por súbita vaidade, agora se interrogava: ali mesmo nas barbas
da Presidência da República?
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A morte destas palmeiras interessa, sobretudo, como sintoma de um relaxamento que
atingiu Moçambique. A folhagem seca dessas palmeiras é uma espécie de bandeira
hasteada desse abandalhamento. Não se trata, afinal, de uma simples morte de
umas tantas árvores. Não tarda a que Maputo receba um outro evento
internacional. Compraremos outros adereços para a cidade. Uns para embelezar de
raiz, outros para maquilhar as olheiras de Maputo. Dessa vez, porém, compremos palmeiras de
plástico. Ou plastifiquemos estas, já falecidas, depois de lhe passarmos uma
demão de tinta verde. Ou, se calhar, nem disso precisaremos: à velocidade com
que espaços que deviam ser verdes estão sendo ocupados por placards e anúncios
publicitários não necessitaremos de mais nada.
Aliás, qualquer
dia, Maputo nem precisa de vista para o mar. Esta cidade que sempre foi uma
varanda virada para o Índico está prescindindo dessa beleza. Locais cuja beleza
advinha da paisagem estão sistematicamente sendo ocupados por publicidade de
tabaco, bebidas alcoólicas e bugigangas diversas. Um dia destes, nem
necessitaremos de ter mais cidade. Trocamos a urbe por propaganda de
mercadorias.
Depois, queixamo-nos da globalização.
Disponível em: . (com adaptações). Acesso em 31 out. 2011.
2 (IFTO/2012 – adaptada)
A expressão “maquilhar as olheiras de Maputo” é uma metáfora crítica ao
processo de mascaramento das mazelas da capital moçambicana promovida pelo
poder público. Que outra passagem apresenta o mesmo efeito no texto?
a) “As palmeiras, pacientes, ainda esperaram” (segundo parágrafo).
b) “Depois, queixamo-nos da globalização” (sexto parágrafo).
c) “Ou plastifiquemos estas, já falecidas, depois de lhe passarmos
uma demão de tinta verde” (quarto parágrafo).
d) “A folhagem seca dessas palmeiras é uma espécie de bandeira
hasteada” (quarto parágrafo).
e) “Esta cidade que sempre foi uma varanda virada para o Índico
está prescindindo dessa beleza” (quinto parágrafo).
3 (IFTO/2012)
De acordo com o texto, o significado do vocábulo cimeira no
primeiro parágrafo consiste em:
a) Reunião de pessoas que representam as autoridades máximas de uma
instituição, organismo ou país, isto é, conferência de cúpula.
b) Ciúmes, uma vez que cimeira na língua portuguesa falada em
Moçambique é uma variação do termo ciumeira do português falado no Brasil.
c) Espécie de campeonato esportivo em que participam os países africanos.
d) Derivação da palavra cima, significando que são aqueles que estão economicamente acima dos outros, ou seja, os
empresários.
e) Alegria e contentamento.
4 (IFTO/2012 – adaptada)
Releia o trecho:
[...] Locais cuja beleza advinha da paisagem estão sistematicamente
sendo ocupados por publicidade de tabaco, bebidas alcoólicas
e bugigangas diversas. Um dia destes, nem necessitaremos de ter mais cidade.
Trocamos a urbe por propaganda de mercadorias.
Depois, queixamo-nos da globalização.
O fragmento transcrito apresenta textualmente uma relação de fatores
pragmáticos, comumente chamada de:
a) intertextualidade
b) aceitabilidade
c) cumplicidade
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Copiar as perguntas e respostas no caderno, além de me mandarem as atividades por e-mail. Lembre-se sempre de colocar nome, número, serie e data do dia.
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